Antigo Egito

A Unificação do Egito

A história egípcia tem início com a unificação dos dois territórios (Baixo e Alto Egito). A partir desse momento, em meados de 3200 a.C., teve início a Era das Trinta e Uma Dinastias, até as sucessivas invasões que culminaram na queda do império.

Segundo MILLARD (1975, p. 11):

“Os primeiros habitantes do Egito necessitavam de grande coragem para penetrar no Vale do Nilo, com seus pântanos e animais perigosos. Os seus descendentes foram descobrindo novos modos de vida. Para conseguir viver, tiveram que aprender a irrigar as terras, armazenando as águas do Nilo num sistema de canais. Para isso, tinham de trabalhar juntos e necessitavam de chefes forte e inteligentes[…]Aos poucos suas pequenas colônias (nomos) uniram-se através de alianças ou conquistas.”

A Paleta de Narmer

A paleta de Narmer, que se encontra atualmente no Museu egípcio do Cairo, retrata o Faraó usando as duas coroas (Baixo e Alto Egito) em momentos distintos. Alan Gardiner, um dos maiores especialistas em Hieróglifos, disse que as imagens mostram claramente o Faraó sendo saudado como o conquistador do Baixo Egito. A paleta era um artefato muito comum no antigo Egito e servia como base para misturar tintas, cremes e óleos que se aplicavam ao corpo. Pensa-se que foi Narmer que unificou o Egito, mas segundo o historiador egípcio Maneton o primeiro unificador teria sido um Faraó de nome Menés. Para muitos estudiosos, Narmer e Menés seriam a mesma pessoa, e Menés seria a forma grega de escrita do nome Narmer.

Coroa da Unificação do Alto e Baixo Egito

Coroa Azul usada durante as guerras

A unificação do Egito foi um trabalho intenso de pacificação entre os dois lados. Narmer e os Faraós seguintes casaram-se com princesas do Baixo Egito a fim de mostrar união entre os lados. A ideia não era demonstrar superioridade, e sim mostrar que a unificação fortaleceria o Egito. Porém mesmo com todo esse esforço a 1ª dinastia ficou longe de estar totalmente pacificada. O primeiro Faraó da 2ª dinastia, para o qual o nome de Hórus é Hetepsekhemui e significa “os dois poderes estão em paz”, reafirmou o momento tumultuado que o fim da 1ª dinastia sofreu e mostrou a sua vontade de acalmar os ânimos da população.

Mesmo com o esforço de alguns para tentar soluções pacíficas, outros fizeram frente às regiões. Peribsen, Faraó da 2ª dinastia, na tentativa de acabar com a rivalidade entre o Alto e o Baixo Egito ou almejando mostrar o poder do Alto Egito (há muitas divergências sobre a real finalidade), escolheu o Deus Seth ao invés de Hórus e nas representações de seu nome usava o animal associado a Seth (deus do Alto Egito), abolindo totalmente o até então principal deus, Hórus. Vale ressaltar que Hórus, mesmo sendo o deus do Baixo Egito, foi escolhido por Narmer como divindade, muito provavelmente a fim de mostrar que realmente a unificação seria uma união entre os lados.

O Faraó Khasekhemui foi o sucessor de Peribsen e pouco se sabe sobre a sua vida, mas foi o único faraó da história a ter os dois deuses, Hórus e Seth, em seu Serekh, sendo essa mais uma tentativa de mostrar ao povo a ideia de unificação. Depois da morte de Khasekhemui, o Deus Seth foi retirado de seus Serekhs, passando Hórus a ser novamente a divindade principal. Seth, de modo geral, começava a ser visto como um deus maligno, sendo associado às inúmeras mortes necessárias para a unificação. Durando um longo período, a união entre o Baixo e o Alto Egito passou por uma instabilidade política na 7ª dinastia, quando diversos reis assumiram o poder em um espaço curto de tempo.

Quer mais livros sobre o tema? Clique aqui.

Artigos, teses e matérias sobre o antigo Egito? Clique aqui.

Autor: Lucas Ferreira

Fontes / Referências:

– BAINES, John; MALIK, Jaromir. Cultural Atlas of Ancient Egypt. London: Andromeda Oxford Limited, 2004.

– HART, George. The British Museum Pocket Dictionary of Ancient Egyptian Gods and Goddesses. British Museum Press, 2001.

– MCDONALD, Angela. The Ancient Egyptians: Their Lives and Their World. Published by The British Museum Press, 2008.

– MILLARD, Anne. The Egyptians (Peoples of the past). London: MacDonald & Company, 1975.

– MORLEY, Jacqueline; SALARIYA, David. How Would You Survive As an Ancient Egyptian?.  London: Orchard/Watts Group, 1999.

– SHAW, Ian. The Oxford Illustrated History of Ancient Egypt. Oxford: Oxford University Press, 2000.

Sites / Referências:

http://www.reshafim.org.il/ad/egypt/

http://www.oxfordexpeditiontoegypt.com/

http://scriptorium.lib.duke.edu/papyrus/

Leitura recomendada:



icon

Lucas Ferreira

Natural de Criciúma – SC, Graduado e Pós-Graduado em História pela UNIASSELVI – SC, com ênfase no Antigo Egito. Apaixonado pelos antigos egípcios e desenvolvedor de projetos na área da Egiptologia.

Artigos relacionados

22 Comentários

  1. Obrigada, o texto me ajudou bastante na avaliação. Sou aluna de primeiro período de historia e com certeza vou passar muito tempo no seu site.

    1. Não meu amigo. O Alto Egito (Alto Nilo) estava nas regiões mais altas e montanhosas (alto em relação ao nível do mar) adentrando a África, já o Baixo Egito (Baixo Nilo) estava ao nível do mar, no caso, o Mar Mediterrâneo.

  2. Olá Administrador, tudo bem? Ouvi uma história, ou quem sabe estória, que durante o período da unificação, o faraó do alto Egito enviava “espiões” para se infiltrarem no baixo Egito como se fossem cidadãos de lá. O objetivo desses supostos espiões era coletar informações sobre o pensamento do povo a respeito do faraó do alto Egito para que o mesmo refletisse sobre seus atuais e próximos passos.
    Quero saber se estas informações são verídicas. Busquei fontes sobre isto, mas não encontrei. Poderia me ajudar a confirmar ou desmentir esses dados?
    Obrigado.

    1. Olá Douglas, tudo bom? Sabe informar qual o local você viu essa informação? Eu desconheço qualquer registro sobre esse “episódio” e, dado o período em que se passa, acho pouco provável que existe algo nesse sentido. Espero ter ajudado. Até mais.

  3. Olá, li em uma coleção da UNESCO sobre a África, que Narmer e Menés foram a mesma pessoa. Também li (não me lembro onde) que o fato de Hórus ter se tornado a divindade oficial do Egito Unificado estava relacionado com o fato de o lado dominante no momento da unificação tê-lo como divindade oficial. Porém, tomarei como verdade o que está escrito no seu texto (de que foi por questões diplomáticas) já que provavelmente a informação que mencionei veio de algum blog perdido na web. Parabéns pelo site!

    1. Olá Carlos, tudo bom? Segundo Gardiner, a paleta mostra a conquista do Baixo Egito, sendo que o Alto Egito, lado dominante, tinha Seth como o deus popular. As questões não são muito claras, mas o fato é que Horus acabou se tornando o grande símbolo da realeza. Até mais.

    1. Olá Franciele, tudo bom? “Obra de plantação”? Não entendi sua pergunta. Até mais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo