Antigo Egito

Arte egípcia antiga revelaria espécie de ganso extinta

Enquanto um pesquisador da Universidade de Queensland examinava uma antiga pintura egípcia de 4.600 anos de idade ano passado, um ganso manchado chamou sua atenção.

O cientista da UQ Dr. Anthony Romilio disse que o estranho, mas belo pássaro, era bem diferente do moderno ganso de peito vermelho (Branta ruficollis), com cores distintas, chamativas e padrões pelo corpo, face, peito, asas e patas.

“A pintura, os Gansos de Meidum, tem sido admirada desde sua descoberta nos anos de 1800 e descrita como a ‘Mona Lisa do Egito’”, ele afirmou.

“Aparentemente ninguém percebeu que ela representava uma espécie desconhecida.”

Painel com pintura mural dos gansos de Meidum, da mastaba de Nefermaat e Itet, c. 2600 a.C., IV Dinastia, atualmente no Museu do Cairo. Foto: Luiz Fernando P. Sampaio. Jan. 2019.

“Licença artística poderia explicar as diferenças com os gansos modernos, mas as obras de arte desse sítio têm representações extremamente realísticas de outras aves e mamíferos.”

O Dr. Romilio disse que nenhum osso do ganso de peito vermelho moderno foi encontrado num sítio arqueológico egípcio.

“Curiosamente, ossos de uma ave similar, mas não idêntica, foram achados em Creta”, disse ele.

“De uma perspectiva zoológica, a pintura egípcia é a única documentação desse ganso com padrões distintos, que parece ter sido globalmente extinto.”

Detalhes do mural com os supostos gansos extintos. Foto: Sandro Vannini.

Dr. Romilio falou que animais extintos já foram identificados previamente na arte antiga, mas nem todas as espécies foram cientificamente confirmadas.

“Eu apliquei o critério de Tobias (Tobias criteria) aos gansos, junto de outros tipos de gansos do afresco”, disse ele.

“Esse é um método altamente eficiente na identificação de espécies – usar medições quantitativas de características chaves de pássaros – e fortalece enormemente o valor das informações para as ciências zoológica e ecológica.”

O Dr. Romilio disse que o Egito nem sempre foi predominantemente desértico e teve “uma história biodiversa, rica em espécies extintas”.

“Sua cultura antiga emergiu quando o Saara era verde e coberto por pastagens, lagos e bosques, cheio de animais diversos, muitos dos quais foram representados nas tumbas e templos”, falou ele.

Detalhes dos outros gansos do mural. Foto: Sandro Vannini.

“Até agora, a ciência confirmou a identidade de relativamente poucas dessas espécies.”

O Dr. Romilio disse que a obra que ele examinou era da tumba de Nefermaat e Itet em Meidum e agora está no Museu do Cairo de Antiguidades Egípcias.

“A arte fornece uma visão cultural, mas também um registro valioso e gráfico de animais desconhecidos hoje”, ele afirmou.

“Estão incluídos o predecessor do gado moderno, o auroque (Bos primigenius), e formas previamente desconhecidas de gazelas, órix, antílope e burro.”

Reconstituições de espécies extintas a partir da arte egípcia antiga. Desenho: Anthony Romilio.

“Essas representações de antigos animais nos ajudam a reconhecer a biodiversidade de milhares de anos atrás, que coexistiu com os humanos.”

“Eu também vejo isso como um lembrete da influência humana na sobrevivência das espécies que estão conosco hoje.”

A pesquisa foi publicada no Journal of Archaeological Science: Reports (DOI: 10.1016/j.jasrep.2021.102834).

O Dr. Romilio disse que uma miríade de espécies com colorações que não combinam com àquelas dos animais modernos foram detalhadas no seu livro A Guide to Extinct Animals of Ancient Egypt. (Disponível em e-book no Amazon.com.br)

Traduzido de:

Ancient art reveals extinct goose. UQ News. 23 Fev. 2021. Disponível em: https://www.uq.edu.au/news/article/2021/02/ancient-art-reveals-extinct-goose. Acesso em: 25/02/21.

Para saber mais:

ROMILIO, A. Assessing ‘Meidum Geese’ species identification with the ‘Tobias criteria’. Journal of Archaeological Science: Reports. vol. 36, Abr. 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jasrep.2021.102834. Acesso em: 25/02/21.

Indicações bibliográficas:

BAILLEUL-LeSUER, R. (Ed.). Between Heaven and Earth: Birds in Ancient Egypt. Chicago: The Oriental Institute of the University of Chicago, 2012. Disponível em: https://oi.uchicago.edu/sites/oi.uchicago.edu/files/uploads/shared/docs/oimp35.pdf. Acesso em: 26/02/21.

GERMOND, P.; LIVET, J. An Egyptian Bestiary. Londres: Thames and Hudson, 2001.

HOULIHAN, P.F. The Birds of Ancient Egypt. Cairo: American University in Cairo Press, 1988.

JANSSEN, R.; JANSSEN, J. Egyptian Household Animals. Aylesbury, Buckinghamshire: Shire Publications, 1989.

McDONALD, A. Ancient Egyptian Animals. Londres: The British Museum Press, 2004.

ROMILIO, A. A guide to Extinct Animals of Ancient Egypt. Edição do autor: Amazon.com, 2021.

Leitura recomendada:



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Luiz Fernando P. Sampaio

Natural de Jacareí - SP, é bacharel e licenciado em História pela Unesp "Júlio de Mesquita Filho", FCHS, Franca - SP. Especializando em História Antiga e Medieval pelas Faculdades ITECNE, Curitiba, PR. Atualmente é professor da rede Estadual de Ensino de São Paulo e na rede privada, ministrando a disciplina de História. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3998141217790326.

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