Antigo Egito

Cleópatra: Obra de Stacy Schiff inspira filme que será rodado em 2011

“Os dois problemas que tive que enfrentar foram o tempo e as fontes. A rainha morreu antes dos 40 anos, em 30 d.C. Muita coisa mudou e já não existem imagens dela em vida. Não podemos nem mesmo saber como essa mulher realmente era”, explica Stacy Schiff, autora de Cleópatra: A Life.

O que há são relatos feitos por homens do campo vitorioso (Roma). “Queria que meus leitores soubessem quais foram as minhas fontes”, diz a escritora. “A melhor delas é possivelmente o escritor romano Plutarco, que viveu um século depois da morte de Cleópatra, mas que provavelmente se baseou em informações de testemunhas oculares. E muita coisa foi escrita também por militares que, é claro, nunca levavam uma mulher a sério.”

Embora fosse a última rainha do Egito, ela vinha de uma longa linha de monarcas gregos que governaram o país. “Em termos de cultura, educação e aparência ela era grega.” Mas, ao contrário dos antepassados, Cleópatra aprendeu a língua egípcia e outras, o que ajuda a entender as suas realizações e o seu conhecimento político. Embora se considerasse grega, sabia como se tornar “exótica” para impressionar. Deixou boquiabertos os romanos quando fez sua magistral entrada na propriedade de Marco Antônio em Tarso, em 41 d.C. “Um momento em que ela se comporta como uma figura divina.”

Agora, quanto à visão romântica de Cleópatra – a sedutora que se mata por amor, a serpente -, Stacy lembra que no mundo dela, casamento e ligações tinham relação com política e poder. “Não sabemos como Cleópatra se sentia em relação aos seus homens, mas claramente ela foi mestre da política real da época.” Além disso, uma boa maneira de rebaixar as realizações de uma mulher “é vê-la em termos sexuais e ainda hoje agimos assim em relação a mulheres poderosas. A ideia de que uma mulher só pode ter sucesso pelo amor, e não por sua argúcia política, é um jeito de sabotá-la”.

Ver Cleópatra como uma mulher que viveu e morreu por amor nos cega para o grande jogo de risco do qual ela participou. E se saiu muito bem, quando afirmou que a criança nascida nove meses após a visita de Júlio César era dele, conseguindo que Roma não anexasse o Egito e apoiasse o seu governo. Júlio César assassinado, surge então Marco Antônio.

Ironicamente, Stacy Schiff se pergunta se essa escolha, tão famosa, “não teria sido um erro”. Afinal, o “vitorioso” já estava a caminho – Otávio, o homem que se tornou Augusto César. Mas ninguém sabia disso até então. “Mas pergunto-me se ela não devia ter esperado um pouquinho mais para fazer sua escolha”, indaga a autora.

“O fato de Cleópatra sair da sua rota para ficar com Marco Antônio mais tempo do que devia pode ser um sinal de que ele teve sucesso com ela, mas não temos nenhum indício dos sentimentos dessas pessoas.” Desse modo, a escritora jamais tenta escrever por Cleópatra, ou especular sobre os pensamentos dela.

Exceto nas últimas páginas do livro, quando chegamos ao fim terrível da vida da rainha. Ela poderia não saber que sua morte foi a encruzilhada do que veio em seguida: o fim do mundo helênico e do Egito, o triunfo total de Roma, e o cristianismo algumas gerações à frente.

Mas sabia que fora derrotada, suas esperanças de uma ligação com Roma perdidas, que o Egito se tornara uma província e, pior do que tudo, sua dinastia tinha acabado. “O medo e a fúria podem ter destroçado Cleópatra.” Restou uma mulher que “improvisou impetuosamente, e continuou improvisando, para alguns era um gênio”, “uma presença animadora”, praticamente sozinha no círculo do poder masculino.

Desnudada do mito, a Cleópatra de Stacy Schiff é uma figura ainda mais extraordinária e monumental – mais mulher, mais pensadora, mais líder. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO


Fonte: www.estadao.com.br

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Lucas Ferreira

Natural de Criciúma – SC, Graduado e Pós-Graduado em História pela UNIASSELVI – SC, com ênfase no Antigo Egito. Apaixonado pelos antigos egípcios e desenvolvedor de projetos na área da Egiptologia.

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