Antigo Egito

Os Barcos de Rá

Os barcos sagrados do deus sol Ré (Ra), conhecidos como barcas solares, são chamados de Mandjet e Mesektet. O Mandjet era o barco que Rá utilizava para atravessar o céu, e o Mesektet era o barco que levava Rá até o submundo.

O barco solar (Mesektet) que viajava ao submundo é constantemente retratado no “Livro dos Mortos” como o local onde ele levaria o morto em seu caminho na busca da vida eterna.

“O deus Sol desempenhou um papel crucial no cotidiano dos egípcios. A narrativa da viagem de Rá nos mundos diurno e noturno, aliás, é um dos mitos mais difundidos. No decorrer dos séculos, todos os deuses importantes foram associados a Rá. Assim Amon, em Tebas, Ptah, em Memphis, e Aton, em Heliópolis, juntaram a seus nomes o de Rá. Algumas divindades tornaram-se solares sem nenhuma justificativa em sua personalidade de origem: é o caso do deus-crocodilo Sobek, na região de Fayum[…]” (QUESNEL, 1993, p.11)

Para os egípcios, todas as noites, quando o sol se punha, significava que Rá travaria mais uma grande batalha contra a serpente do caos, Apópis. Segundo o Amduat, que significa “O livro de como é no submundo”, que apareceu completo pela primeira vez na tumba de Tutmés III, no Vale dos Reis, o submundo era dividido em 12 horas que Rá precisava enfrentar para no outro dia reaparecer novamente no horizonte, saindo vitorioso de mais uma batalha. O Amduat dava detalhes do que o deus iria encontrar durante a jornada de 12 horas no Duat. Duat era um lugar de trevas onde existiam diversos demônios, conhecido também como submundo. Assim como Rá, os Faraós começaram a associar o Amduat com a sua própria vida, e o livro servia para que o Faraó morto soubesse os nomes dos deuses bons e ruins que iria encontrar na passagem junto com Rá. Houve outras versões como o Livro dos Portões, em que as 12 horas são colocadas como 12 portões.

Barco Solar do Faraó Khufu (Queóps)


A primeira hora representa Rá entre o céu e o submundo, quando o sol está se pondo e vai perdendo sua energia. Na segunda hora, Rá entra em um lugar chamado Ur-Nes. Na terceira hora, o barco de Rá passa sobre o córrego de Osíris e é acompanhado por três outros barcos remados por Osíris, que assumia formas diferentes. Na quarta hora, Rá viaja para o deserto de Sokar, um lugar guardado por cobras, e nessa hora o barco de Rá se transforma em um barco em formato de cobra para viajar sobre as areias. Na quinta hora, Rá ainda continua nos domínios de Sokar e é ajudado por 7 deuses e 7 deusas que o levam até um lugar seguro. Na sexta hora, Rá passa pelo santuário de Osíris e se prepara para o grande momento de enfrentar seu eterno inimigo: a serpente Apópis. Na sétima hora, a barca de Rá é bloqueada pela serpente e a batalha acontece.

Pintura que mostra Apópis, a eterna inimiga de Rá – Tumba de Ramsés I.

Na oitava hora, entra na cidade de Tebat-Neteru, onde ganha a proteção da serpente poderosa chamada Mehen. É aqui que os deuses ganham vida como Rá. Na nona hora, o barco solar atinge uma região oculta chamada Amentet, onde a pessoa que aprende os nomes dos deuses que estavam no livro deve honrá-los. Na décima hora, vários barcos transportando deuses amigos de Rá se juntam a ele e começam a matar os inimigos. Na décima primeira hora, Rá segura um cetro e na proa do barco um disco solar representa o sol com uma serpente envolta. Essa serpente representa o tempo e ela engole as horas que se passaram. Na décima segunda hora, Rá renasce ao leste no horizonte egípcio. Houve ainda variações desse mito, como citado acima, no livro dos portões e também no livro das cavernas. Todos tinham o mesmo intuito de incluir a alma do morto na barca solar de Rá para que pudessem atravessar o Duat.

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Autor: Lucas Ferreira

Fontes / Referências:

– BAINES, John; MALIK, Jaromir. Cultural Atlas of Ancient Egypt. London: Andromeda Oxford Limited, 2008.

– QUESNEL, A et al. O Egito: Mitos e Lendas. Editora: Ática, 1993.

– REMLER, Pat. Egyptian Mythology A to Z. 3. ed. Publisher: Chelsea House, 2010.

Sites / Referências:

http://www.sacred-texts.com/egy/

http://www.oxfordexpeditiontoegypt.com/

http://scriptorium.lib.duke.edu/papyrus/

Leitura recomendada:



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Lucas Ferreira

Natural de Criciúma – SC, Graduado e Pós-Graduado em História pela UNIASSELVI – SC, com ênfase no Antigo Egito. Apaixonado pelos antigos egípcios e desenvolvedor de projetos na área da Egiptologia.

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16 Comentários

  1. Boa tarde Lucas
    Estou fazendo uma pesquisa sobre barcos-ambulância, e buscando sua origem histórica. Tenho certeza de que antigas civilizações possuíam alguma coisa similar às atuais “ambulanchas”, mas estou com dificuldade de encontrar. Você sabe se no antigo Egito havia esse tipo de transporte? Ou já viu alguma escultura ou hieróglifo sobre isso? Obrigada e um abraço.

    1. Olá Denise, tudo bom?! Muito interessante a sua pesquisa. Eu desconheço algum barco específico para esse fim. No entanto, o rio Nilo era uma grande avenida que ligava todo o Egito. Muito provavelmente esse tipo de transporte ocorreu. Vou checar algumas fontes para ver se encontro algo. Se encontrar, eu atualizo o comentário aqui. Até mais.

  2. O POVO EGIPCIO TINHA POR COSTUME POR DOIS NOMES NAS PESSOAS POR ACHAR QUE SE ALGUEM DESCOBRISSE O NOME ORIGINAL ESTA PESSOA PODERIA SER DOMINADA….SABE ALGO SOBRE ISSO?

  3. Olá, Lucas! Conheci o site a pouco tempo e estou me interessando muito pelo assunto, está sendo uma ótima porta de entrada para os estudos sobre o Antigo Egito.

    Sobre essa jornada de Rá, fiquei com uma dúvida. Todos os mortos realizavam sua passagem para o Além até o tribunal de Osíris, certo? Digo, quem fosse capaz de arcar com os rituais funerários. (em que eles utilizavam os encantamentos e hinos do Livro dos Mortos para proteção). As etapas que esses mortos (não necessariamente o Faraó) realizavam no pós-morte é a também essa mesma jornada de Rá?

    Muito obrigada!

    1. Olá Yvonne, tudo bom? Fico feliz que o site está ajudando você. Houve muitos rituais. A jornada de Rá foi sendo incorporada na passagem do morto. Era uma parte do ritual, dos obstáculos que eles encontrariam no outro mundo. Espero ter ajudado. Até mais.

  4. Olha eu aqui novamente kkk Mais uma vez parabéns pelo trabalho! Gostaria de um esclarecimento relacionado a esse assunto e ficarei deveras grato se puder ajudar kkk A procura de referências visuais sobre o Egito Antigo acabei por assistir a uma mini série na rede Record, “José do Egito” que narra aquele texto bíblico do hebreu que se tornou vizir, a questão é que na série eles retratam os Egípcios com um verdadeiro “MEDO” da noite, um medo cultural, como se temessem por criaturas e acontecimentos bizarros… Só gostaria de saber se esse tipo de informação é real, afinal uma série de tv pode não ser confiável em todos os pontos da retratação do povo, só me atentei a isso pois não encontro nada que esclareça isso em outras fontes. Então se puder ajudar fico grato, a Record usou uma licença poética para acrescentar esse traço cultural ou eles realmente não saiam à noite e tinham todo aquele temor?

    1. Olá Chrisley, tudo bom? Não era “MEDO”, era respeito. Durante a noite, o deus SOL lutava uma batalha para conseguir ressurgir no outro dia. Agora, imagine um cenário sem iluminação ampla. Não era um lugar propício para sair a noite. Espero ter ajudado. Até mais.

  5. Olá!
    De uma certa forma te invejo pela decisão pois, estive no Egito por duas vezes e, realmente é uma terra mágica. Sou um pesquisador da história desta cultura antiga. Gostaria de saber se tem mais material a respeito deste assunto em particular, sobre a jornada dos Barcos de Rá. Os significados de cada hora, tanto diurna como noturna.
    att
    Marcos Ronan

    1. Olá Marcos, tudo bom? Muito legal saber que você pesquisa a fundo sobre a cultura dos antigos egípcios. Um bom livro (em inglês) sobre a Jornada de Rá (Explicando as variações do mito em 12 Horas ou 12 Portões) é o “Egyptian Mythology A to Z. 3. ed. do autor Pat REMLER”. Qualquer coisa, me adicione no MSN e podemos trocar algumas ideias a respeito. Até mais.

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