Antigo Egito

Micro-CT mostra que “múmia falcão” de 2100 anos é um feto

Uma pequena múmia egípcia que por muito tempo se acreditou ser de um falcão é na verdade de um raro feto severamente malformado, diz um exame liderado pelo especialista em múmia Andrew Nelson da Western University.

Digitalizações detalhadas de uma Micro-CT (Microtomografia Computadorizada) desembrulharam virtualmente a múmia e revelaram o que teria sido uma tragédia familiar mesmo há dois milênios atrás: um menino, nascido morto com cerca de 23 ou 28 semanas de gestação, e com uma condição rara chamada anencefalia, na qual o cérebro e o crânio não são formados devidamente.

Múmia falcão. Cortesia: Western University, 2018.

O erro de identificação dela no Maidstone Musem, no Reino Unido, como ‘EA 493 – Falcão Mumificado do Período Ptolomaico’, veio à luz em 2016 quando o museu decidiu fazer um escaneamento-CT de sua múmia feminina residente e, incidentalmente, escanear ‘EA 493’ e outras múmias animais ao mesmo tempo. Foi quando a múmia menor surpreendeu os especialistas, que a identificaram como um feto humano. Todavia, os escaneamentos CT careciam de detalhes e Nelson trabalhou com o Museu e a Nikon Metrology (UK) para conduzir uma Micro-CT: um escaneamento de alta-resolução extrema que pretendia não ocasionar nenhum tipo de danificação à múmia.

Nelson então reuniu um time interdisciplinar para examinar e interpretar as imagens no que se tornou o escaneamento de maior resolução jamais conduzido em uma múmia fetal.

As imagens mostram dedos dos pés e das mãos bem formados, mas, um crânio com severas más formações, diz Nelson, um bioarqueólogo e professor de Antropologia na Western. “Toda a parte do topo do seu crânio não está formada. Os arcos das vértebras de sua espinha não fecharam. Os ossos do ouvido dele estão na parte de trás da cabeça”.

Imagem da TC da múmia. Cortesia: Maidstone Museum UK/Nikon Metrology UK.

Não existem ossos para formar o topo e os lados do crânio, onde o cérebro normalmente cresceria. “Neste indivíduo, esta parte da abóbada craniana nunca se formou e provavelmente não havia um cérebro real”, diz Nelson.

Isso faz dela uma das duas únicas múmias anencéfalas que se conhecem (a outra foi descrita em 1826), e de longe, a múmia fetal mais estudada na história.

Nelson recentemente apresentou os achados do time ao Extraordinary World Congress on Mummy Studies (Congresso Mundial Extraordinário de Estudos de Múmias), nas Ilhas Canárias.

A pesquisa fornece importantes pistas sobre a dieta materna – anencefalia pode resultar de falta de ácido fólicos, encontrado nos vegetais verdes – e levantam novas questões sobre se a mumificação neste caso ocorreu porque se acreditava que fetos tinham poder como talismãs, diz Nelson.

“Teria sido um momento trágico para a família perder o filho e dar à luz a um feto de aparência estranha, não a um feto de aparência normal, em absoluto. Então era um indivíduo muito especial”, diz Nelson.

Um time de mais de doze pesquisadores – especialistas em Egiptologia, radiologia, anatomia, neonatologia e urologia, da Western University, da Inglaterra, da França e do Cairo – emprestaram sua especialidade ao projeto.

 

Traduzido de:

NELSON, A. Micro-CT scans show 2,100-year-old ‘hawk’ mummy a stillborn baby. Western University. Media relations. 31 Mai. 2018. Disponível em: http://mediarelations.uwo.ca/2018/05/31/micro-ct-scans-show-2100-year-old-hawk-mummy-stillborn-baby/. Acesso em: 05/07/18.

Para mais informações:

HARRIS, S. When a hawk mummy is not a hawk mummy. Maidstone Museum. Disponível em: https://museum.maidstone.gov.uk/hawk-mummy-not-hawk-mummy/. Acesso em: 06/07/18.

Indicação bibliográfica:

LOPES,J.; BRANCAGLION JR., A.; ALEX,S.; WERNER, H. (Orgs.). Tecnologia 3D. Desvendando o passado, modelando o futuro. Rio de Janeiro: Lexikon Editora, 2013.

PRINGLE, H. O mundo das múmias. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

SENTINELLA, D.E. O enigma das múmias. São Paulo: Novo século, 2008.

Leitura recomendada:



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Luiz Fernando P. Sampaio

Natural de Jacareí - SP, é bacharel e licenciado em História pela Unesp "Júlio de Mesquita Filho", FCHS, Franca - SP. Especializando em História Antiga e Medieval pelas Faculdades ITECNE, Curitiba, PR. Atualmente é professor da rede Estadual de Ensino de São Paulo e na rede privada, ministrando a disciplina de História. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3998141217790326.

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