Antigo Egito

Macacos enterrados ‘como bebês’ no Egito antigo foram importados da Índia

Restos de macacos achados enterrados num antigo porto no Egito revelam que eles foram importados da Índia como animais de estimação, dizem os arqueólogos.

Os macacos, descobertos num cemitério animal no antigo porto de Berenice, e que foram achados arrumados como bebês adormecidos, foram inicialmente considerados como pertencentes àquela área.

Mas ao usar scanners 3D e comparar os ossos deles com outros, os pesquisadores descobriram que os primatas eram na realidade macacos-rhesus da Índia.

A zooarqueóloga Dra. Marta Osypińska do Instituto de Arqueologia e Etnologia da Academia Polonesa de Ciências em Poznań disse: “Esse é um achado único. Até agora, ninguém havia encontrado macacos indianos em sítios arqueológicos na África”.

“Curiosamente, mesmo os escritores antigos não mencionam essa prática.”

Arqueólogos trabalhando no sítio. Foto: M. Osypińska.

Ela acrescentou: “Quando o Egito foi anexado ao império romano há 2000 anos atrás, acreditamos que os romanos abastados que ficaram em Berenice, um posto avançado distante, nos séculos I e II d.C., quiseram passar o seu tempo na companhia de animais variados. Dentre eles estavam macacos.”

Além dos macacos, os arqueólogos também acharam cachorros e gatos enterrados ao lado deles.

Os macacos foram enterrados ao lado deles, com as patas próximas às suas cabeças e um deles estava coberto por um tecido de lã.

Outro tinha duas conchas grandes colocadas perto da cabeça, uma delas do Oceano Índico ou da costa sudeste da África.

Também haviam fragmentos de ânforas em ambos os lados do animal. Numa delas estava um pedaço de tecido, na outra um esqueleto de um jovem leitão e três gatinhos pertos dele.

Restos de um dos macos, ânfora com ossos animais e concha. Foto: M. Osypińska.

No século I d.C., os romanos que tomaram o controle do Egito fizeram da cidade um importante centro comercial transoceânico, conectando a África Negra, o Oriente Médio e a Índia.  

A Dra. Osypińska disse: “Sabíamos que especiarias, tecidos e outras commodities eram importadas da Índia. Parece que macacos também eram importados.”

Além de macacos-rhesus (Macaca mulatta), os cientistas também descobriram os restos de um pequeno macaco da espécie Macaca radiata, também nativo da Índia

A Dra. Osypińska acrescentou que o achado de animais importados da Índia no Egito significava que as pessoas daquele tempo que lá viviam estavam prontas para o desafio de trazer animais exóticos para lhes fazer companhia.  

Restos de cachorros, gatos e macacos achados nas escavações. Foto: I. Zych.

Ela afirmou: “Isso envolvia ter de prover os animais com alimentação adequada e água durante o cruzeiro de várias semanas pelo Oceano Índico e Mar Vermelho.

“Infelizmente, após chegar em Berenice, os macacos não puderam se adaptar e morreram todos jovens. Eles provavelmente não tiveram frutas frescas e outros alimentos essenciais.”

Berenice é o local da missão do Centro Polonês de Arqueologia Mediterrânea (PCMA) da Universidade de Varsóvia e Universidade de Delaware (EUA), e o projeto relativo às análises dos restos dos macacos é realizado por um consórcio científico entre o Instituto de Arqueologia e Etnologia da Academia Polonesa de Ciências e o PCMA.

O cemitério animal de 2000 anos de idade foi descoberto há alguns anos atrás.

Traduzido de:

ZDZIEBŁOWSKI, Z. Monkeys buried like ‘sleeping babies’ were imported to ancient Egypt from India as pets. Science in Poland. 24 Agos. 2020. Disponível em: https://scienceinpoland.pap.pl/en/news/news,83588,monkeys-buried-sleeping-babies-were-imported-ancient-egypt-india-pets.html. Acesso em: 28/08/20. 

Para mais informações:

ASZY. Berenike. Polish Centre of Mediterranean Archaeology. Disponível em: https://pcma.uw.edu.pl/en/2019/04/17/berenike-2/. Acesso em: 01/09/20.

Indicações bibliográficas:

DOSHI, Saryu; EL ABADI, Mostafa (Eds.). India and Egypt: Influences and Interactions. Mumbai: Marg Publications, 1993.

GERMOND, P.; LIVET, J. An Egyptian Bestiary. Londres: Thames & Hudson, 2001.

IKRAM, S. (Ed.). Divine Creatures: Animal Mummies in Ancient Egypt. Cairo: The American University in Cairo Press, 2015.

LEWIS, S.; LLEWELLYN-JONES, L. The culture of animals in antiquity: a sourcebook with commentaries. Londres: Routledge, 2018.

Leitura recomendada:



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Luiz Fernando P. Sampaio

Natural de Jacareí - SP, é bacharel e licenciado em História pela Unesp "Júlio de Mesquita Filho", FCHS, Franca - SP. Especializando em História Antiga e Medieval pelas Faculdades ITECNE, Curitiba, PR. Atualmente é professor da rede Estadual de Ensino de São Paulo e na rede privada, ministrando a disciplina de História. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3998141217790326.

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