Tecnologia médica ajuda a revelar segredos de múmias egípcias
Nestawedjat, uma rica e casada “senhora da casa” morreu na antiga cidade egípcia de Tebas por volta de 700 a.C.
Cerca de 2700 anos tarde de mais para salvá-la, ela foi trazida a um hospital britânico para se submeter a um procedimento médico completamente moderno: uma tomografia computadorizada.
Nos últimos anos, a tecnologia médica tem permitido aos pesquisadores aprender detalhes íntimos das vidas de múmias egípcias, que vão muito além dos detalhes biográficos colhidos em suas tumbas.
Acredita-se que Nestawedjat, por exemplo, que morreu entre os 35 e 49 anos de idade, tinha dentes que provavelmente doíam e lesões na espinha, que são comumente associadas aos atletas ou aos idosos – ainda que ela tenha morrido nova para os padrões de hoje.
Na quarta-feira [25/09], os restos mortais de Nestawedjat foram colocados sob holofote numa mesa do Museu de belas artes de Montreal – uma das seis múmias que estarão em exibição no próximo mês como parte da exposição do Museu britânico, “Egyptian Mummies: Exploring Ancient Lives“, que previamente passou por Hong Kong, Austrália e Taiwan.
Repórteres e fotógrafos ajeitaram as câmeras sobre o corpo, perfeitamente envolvido em linho sem uma única borda solta ou fiapo; próximos, expositores de vidro mostravam os jarros que teriam contido os órgãos dela e dois dos três caixões de madeira ornamentados, que estavam aninhados um dentro do outro, como bonecas russas, contendo o corpo no centro.
Graças às tomografias computadorizadas, e ocasionalmente a equipamentos veterinários para grandes animais para as partes maiores, pesquisadores foram capazes de recolher informações sobre as condições médicas das múmias, suas dietas e ritos funerários, sem desenrolar – e se arriscando a destruir – os frágeis restos, segundo Caroline Barton, gerente assistente de coleção no departamento do Egito e Sudão do Museu Britânico.
“Descobrimos que podemos penetrar bem profundamente os restos humanos, e virtualmente descascar as camadas da mumificação, as camadas de resina, as camadas de pele, a musculatura”, disse ela na quarta-feira em Montreal, onde está ajudando nos preparativos para a próxima exposição.
A tomografia de Nestawedjat, por exemplo, revelou que o coração dela ainda está presente no corpo. Mostrou ainda os amuletos colocados no corpo dela como parte do ritual de enterramento que o deixou eviscerado, salgado, ungido com óleos e preenchido com materiais para vedação.
Barton disse que a tecnologia também é parte responsável pela exibição que estará em Montreal. Enquanto alguns dos artefatos seriam considerados muitos frágeis para se transportar há apenas uma década atrás, novas e melhores técnicas de acondicionamento deram à equipe do museu a confianças para mandá-los mundo afora.
Barton, uma especialista em “empacotamento de múmia”, supervisionou esse processo ela mesma, usando espuma macia de polietileno de corte personalizado e um tecido de suporte chamado bondina, para garantir que a preciosa carga não fosse danificada por uma viagem instável pelo ar e pela estrada.
“Temos que pensar com simpatia sobre onde estarão os pontos de pressão, o que pode quebrar e o que não pode”, explicou ela.
Laura Vigo, curadora da apresentação da exposição em Montreal, disse esperar que, ao expor os segredos íntimos das múmias – como o fato de uma delas provavelmente ter morrido de septicemia, devido a uma infecção nos dentes, enquanto outra provavelmente ter entupido as artérias – o público se sentirá perto o suficiente para “ouvir suas vozes”.
“Há séculos, há milênios, estamos apaixonados pela idéia da múmia egípcia”, disse ela. A exposição, que vai de 14 de setembro a 2 de fevereiro de 2020, oferece uma chance “de realmente entender como eles viveram, não apenas a múmia, mas como pessoas.”
Traduzido de:
LOWRIE, M. How medical technology reveals the secrets of ancient Egyptian mummies. Canada’s National Observer, 29 Ago. 2019. Disponível em: https://www.nationalobserver.com/2019/08/29/news/how-medical-technology-reveals-secrets-ancient-egyptian-mummies?fbclid=IwAR0149qwJydsHlgqrhJsT2mq10kcRwQTV027w9vv4CBBTWonswu5ne6Iut4. Acesso em: 31/08/19.
Indicação bibliográfica:
LOPES,J.; BRANCAGLION JR., A.; ALEX,S.; WERNER, H. (Orgs.). Tecnologia 3D. Desvendando o passado, modelando o futuro. Rio de Janeiro: Lexikon Editora, 2013.
PRINGLE, H. O mundo das múmias. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
SENTINELLA, D.E. O enigma das múmias. São Paulo: Novo século, 2008.
E me permita perguntar: como está a situação da escravidão no Antigo Egito atualmente? Pergunto pois na década de 60 Kurt Lange falava que a escravidão no Egito era pequena, não havia força de trabalho escrava suficiente para desempenhar obras de grande porte, portanto, as obras eram construídas majoritariamente pela população. Como motivação eles haviam um grande apreço pelas obras que construíam, ele até mesmo cita uma inscrição de hierógrafo que narra como o povo se alegrou ao chegar um obelisco ou estatua na cidade e como saíram correndo homens, mulheres, crianças e idosos para ajudar trazer o monumento para o devido local.
C. W. Ceran, por outro lado, fala dos monumentos com a visão mais comum encontrada por aí, que eles eram feitos na base da chicotada nas costas de escravos fedendo a suor, alho e queimados pelo sol impiedoso.
A questão é: a escravidão era grande ou pequena no Egito Antigo?
Saudações Julio Rolim,
de fato esse é um debate complexo entre os egiptólogos. Alguns afirmam que se havia escravidão no Egito antigo pouco ou quase nada chegou até nós (e.g.: parece não existir uma palavra que designe ‘escravo’ como grupo social específico, como ocorria em outros povos da Antiguidade), já outros afirmam que o trabalho escravo (e outras formas de trabalho compulsório) era tão peculiar que os envolvidos teriam direitos bem particulares: casar-se com pessoas livres, acesso à propriedade e herança – o que torna a compreensão e uma classificação da escravidão/servidão no Egito antigo um desafio. Assim, as formas de servidão, trabalho compulsório e possível escravidão precisam continuar sendo estudadas. Indicaria a você o seguinte livro: CARDOSO, Ciro Flamarion. Trabalho compulsório na antiguidade. Rio de Janeiro: Graal, 2007 (pode ser comprado ou encontrado online para download).
Espero ter ajudado.
Agradecemos seu comentário.
Ajudou sim. Obrigado, meu caro!
Bom como sempre. Comento só para parabenizar kkk.
Saudações Julio Rolim,
agradecemos pelo apoio. Continue acompanhando sempre nosso site.
Abraço fraterno e até breve.