Antigo Egito

Misteriosos anéis de dedo do pé achados em antigos esqueletos egípcios

Arqueólogos descobriram dois antigos esqueletos egípcios, datando de mais 3300 anos atrás, cada um deles enterrados com um anel de dedo do pé feito de liga de cobre. Foi a primeira vez que objetos como esses foram achados em sítios do antigo Egito. Os anéis eram utilizados provavelmente enquanto os indivíduos ainda viviam, e a descoberta deixa em aberto o debate sobre suas funções e se eram usados por razões de estilo ou mágica.

Apoiando a interpretação do uso de caráter mágico, um dos anéis foi encontrado num dedo do pé direito de um homem, de cerca de 35 a 40 anos de idade, que tinha uma fratura no pé e o fêmur quebrado.

Anel encontrado no segundo dedo do pé direito da múmia. Foto: cortesia do The Amarna Project.
Anel encontrado no segundo dedo do pé direito da múmia. Foto: cortesia do The Amarna Project.

 

Anéis únicos em uma cidade única

Ambos os esqueletos foram achados num cemitério ao sul da cidade de Akhetaton, cujo nome significa “Horizonte de Aton”. Agora chamada de Amarna, a cidade de Akhetaton foi capital egípcia por pouco tempo, construída por Akhenaton, um faraó que tentou focalizar a religião egípcia em torno da adoração do disco solar, o “Aton”. Ele foi provavelmente o pai de Tutankhamon. Depois da morte de Akhenaton, essa tentativa de mudar a religião do Egito desenredou, seus sucessores condenaram-no e a cidade veio a ser abandonada. Ainda assim, Anna Stevens, a diretora assistente do Amarna Project (Projeto Amarna), disse que os anéis descobertos estão provavelmente relacionados com as mudanças religiosas introduzidas por Akhenaton. Os achados parecem ser os primeiros anéis de dedo do pé de liga de cobre descobertos no Egito. “Eu não tenho conhecimento de nenhum outro caso, mas isso não significa que eles não existam. Tenha em mente que se encontrássemos algo assim numa casa, por exemplo, não teríamos nenhuma ideia de seu propósito”, escreveu Stevens em um e-mail enviado ao LiveScience. Um anel de dedo do pé em ouro foi achado anteriormente na múmia de Hornedjitef, um sacerdote de Karnak há mais de 2200 anos atrás. A múmia, que reside no British Museum (Museu Britânico), tem um “grosso anel de ouro no dedão do seu pé esquerdo”, escreveu a antropóloga forense Joyce Filer em seu livro “The Mystery of the Egyptian Mummy”, British Museum Press, 2003.

Exemplos de anéis-amuletos para os dedos das mãos. Museu Britânico, Londres. Fonte: ANDREWS, C. Amulets of ancient Egypt. Londres: British Museum Press, 1994, imagem 45.
Exemplos de anéis-amuletos para os dedos das mãos. Museu Britânico, Londres. Fonte: ANDREWS, C. Amulets of ancient Egypt. Londres: British Museum Press, 1994, imagem 45.

 

Um instrumento mágico de cura?

O homem cujo pé direito fora machucado provavelmente sentiu muitas dores enquanto vivia.

Ele “mostrou sinais de fraturas antemortem (antes de sua morte), incluindo várias costelas, o rádio direito, a ulna direita, o pé direito (no qual o anel de dedo foi achado) e o fêmur direito”, escreveu Stevens. “A fratura do fêmur direito curou-se em ângulo e deve ter causado dor contínua neste indivíduo”.

O anel foi colocado no dedo do pé ferido, sugerindo, talvez, que fora projetado como um instrumento de cura mágica incomum.

“O ato de ‘ligar’ ou ‘circular’ era um poderoso artifício mágico no antigo Egito, e um anel de metal, que pode ser preso em torno de algo, serve bem a esse tipo de ação”, disse Stevens. “Essa é uma possibilidade que investigaremos mais a fundo, verificando fontes tais como o corpus de feitiços mágicos-médicos que sobreviveram do antigo Egito, para buscar por paralelos”.

Contudo, o esqueleto do segundo indivíduo com o anel de dedo do pé, achado em 2012, não carrega sinais visíveis de condição clínica. Stevens observa que esse corpo ainda tem de ser estudado por bioarqueólogos e seu sexo é desconhecido.

Múmia masculina com anel de dedo do pé.
Múmia masculina com anel de dedo do pé. Foto: cortesia do The Amarna Project.

 

Quem eram eles?

Os esqueletos foram envolvidos em tecidos e esteiras de fibras vegetais, e ambas as sepulturas foram perturbadas por ladrões de túmulos.

Nenhum dos esqueletos no cemitério estava tecnicamente “mumificado”, por assim dizer. “Não há nenhuma evidência no cemitério como um todo de tentativas para mumificar os corpos, em termos de remoção dos órgãos internos (nós encontramos muito frequentemente restos de cérebro dentro dos crânios) ou de introdução de aditivos para preservar tecido corporal (os corpos subsistem como esqueletos)”, Stevens escreveu. “Mas no sentido de que envolver os corpos em tecido e esteiras é um passo para a preservação da configuração do corpo, e uma forma de mumificação simples”.

Solucionar quem eles eram em vida é complicado, falou Stevens. O cemitério parece representar uma “grande fatia” da sociedade da cidade. Essas pessoas não eram ricas o suficiente para ser enterradas numa tumba escavada na rocha, porém, podiam dispor, e tinham autorização, para enterramentos simples, como visto nesta necrópole.

“Eles (os dois indivíduos) provavelmente viveram, como a maioria dos cidadãos de Amarna, numa casa pequena adjacente àquelas de uma vila maior pertencente a um dos oficiais da cidade, para quem eles prestavam serviços e tarefas em troca de provisões básicas, especialmente grãos”, disse Stevens.

No caso do homem com fraturas múltiplas, sua vida parecer ter sido especialmente difícil e ele tem sinais de doença degenerativa nas articulações. Isso “sugere mais provavelmente uma vida (de) labor para esse indivíduo do que, digamos, uma existência como escriba”, Stevens falou. Em ambos os casos, entretanto, as vidas dos indivíduos terminaram com cada um tendo um anel de liga de cobre num de seus dedos dos pés.

O caso do indivíduo do sexo masculino com o anel de dedo do pé foi publicado na mais recente edição do “Journal of Egyptian Archaeology” (Jornal de Arqueologia Egípcia). Mais informações sobre o Amarna Project podem ser encontradas em: www.amarnaproject.com.

 

Texto traduzido do inglês, de:

http://www.livescience.com/37985-toe-rings-found-on-egyptian-skeletons.html

 

Indicação Bibliográfica:

ANDREWS, Carol. Amulets of ancient Egypt. Londres: British Museum Press, 1994.

PINCH, Geraldine. Magic in ancient Egypt. Londres: British Museum Press, 1994.

STROUHAL, Eugene. A vida no antigo Egito. Barcelona: Folio, 2007.

Leitura recomendada:



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Luiz Fernando P. Sampaio

Natural de Jacareí - SP, é bacharel e licenciado em História pela Unesp "Júlio de Mesquita Filho", FCHS, Franca - SP. Especializando em História Antiga e Medieval pelas Faculdades ITECNE, Curitiba, PR. Atualmente é professor da rede Estadual de Ensino de São Paulo e na rede privada, ministrando a disciplina de História. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3998141217790326.

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2 Comentários

  1. Incrivel! Meu sonho é ser arqueólogo,apesar de ninguem me apoiar rs, e ir ao Egito e quem sabe conseguir uma grande descoberta, ótimo site

    1. Olá Gustavo, como vai?

      Não sei ao certo qual é a sua idade, mas, se o seu sonho realmente for a Arqueologia, você poderia tentar entrar futuramente em alguma faculdade que ofereça esse curso, como por exemplo a UEA, Iranduba – AM, a UFMG; Belo Horizonte – MG; a UCG, Goiânia – GO e outras. Para maiores detalhes acesse o site da Márcia Jamile, que é arqueóloga e estuda o Egito: http://arqueologiaegipcia.com.br/category/onde-estudar/.

      Desde já, lhe ofereço uma dica valiosa: para estudar o Antigo Egito você precisará aprender outros idiomas, a começar pela língua inglesa.
      Confira o texto “Egito made in Brazil” – http://historiaupf.blogspot.com.br/2013/03/egito-made-in-brazil.html e tome-o como inspiração.

      Muita sorte e sucesso na realização do seu sonho Gustavo…

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