Pesquisadores conseguiram elaborar a cerveja que os antigos egípcios bebiam, graças ao fato de que puderam extrair e cultivar leveduras que, incrivelmente, sobreviveram dentro de recipientes durante milênios. Desse modo podemos saber que gosto tinha a bebida. Segundo dois dos autores do estudo, Ronen Hazan e Michael Kutstein, “não está mal”. O trabalho é de grande importância ao campo da arqueologia experimental, para conhecer os métodos de fabricação da cerveja no antigo Egito, e constitui um êxito único, posto que é a primeira vez que se produziu álcool a partir de levedura antiga.
Recuperar leveduras milenares
Não foi tão simples assim. A recuperação dos nanoporos dos antigos recipientes usados originalmente para a fabricação de cerveja, e também de hidromel – bebida fermentada com água e mel – foi muito trabalhosa. Os investigadores buscaram métodos para extrair as leveduras dos nanoporos dos recipientes com auxílio de especialistas da adega Kadma, uma empresa especializada na elaboração de vinho em recipientes de barro. A recriação da antiga cerveja egípcia ocorreu a cargo de um especialista em cervejas, que assessorou na criação de uma bebida apta para o consumo humano.
Os pesquisadores sequenciaram o genoma das leveduras e os resultados mostram que são similares às que hoje são usadas para elaborar algumas bebidas tradicionais africanas, como o tej e outras leveduras mais modernas.
CordonPress.
Uma bebida imprescindível
Temos evidências da antiguidade dessa popular bebida. Foram achadas provas da elaboração de cerveja há uns 13.000 anos, no Levante mediterrâneo, antes da invenção da agricultura – alguns pesquisadores creem inclusive que a invenção da cerveja pode ter impulsionado a agricultura. Aparentemente, a cultura natufiana, que viveu nessa área, preparava uma espécie de cerveja para consumir durante determinadas cerimônias.
A cerveja chegou para ficar e esteve ligada aos primeiros assentamentos e civilizações. Por exemplo, na Mesopotâmia já se bebia cerveja desde o ano 4000 a.C., e no Egito está documentada a fabricação dessa bebida desde 5000 a.C., mesclando cevada e água fervida. No país do Nilo, a cerveja teve um papel fundamental na dieta diária, também se relacionava com as divindades e se considerava que tinha propriedades terapêuticas.
Contudo, o sabor que tinha a cerveja que bebiam na antiguidade tem sido uma incógnita durante muito tempo. Até agora. O método utilizado e os resultados foram publicados na revista especializada mBio.
Traduzido de:
MAYANS, C. Consiguen fabricar la cerveza que bebían los faraones hace 5.000 años. National Geographic España, 24 Mai. 2019. Disponível em: https://www.nationalgeographic.com.es/historia/consiguen-fabricar-cerveza-que-bebian-faraones-hace-5000-anos_14290/5. Acesso em: 29/05/19.
Para mais informações:
AOUIZERAT, T.; GUTMAN, I.; PAZ, Y. et al. Isolation and Characterization of Live Yeast Cells from Ancient Vessels as a Tool in Bio-Archaeology. mBio, Abr. 2019. Disponível em: https://mbio.asm.org/content/10/2/e00388-19. Acesso em: 29/05/19.
Indicações bibliográficas:
BRESCIANI, E. Alimentos e bebidas do antigo Egito. In: FLANDRIN, J.L.; MONTANARI, M. História da Alimentação. 6.ed. São Paulo: Editora Estação Liberdade, 2009.
MUXEL, A.A. Uma Breve História sobre a Cerveja. UFSC – Prof. Dr. Alfredo A. Muxel, 14 Ago. 2018. Disponível em: http://amuxel.paginas.ufsc.br/2018/08/. Acesso em: 29/05/19.
TALLET, P. A culinária no Antigo Egito. Barcelona: Folio, 2006.
 
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