Antigo Egito

DNA de múmia revela origens egípcias da melancia

As crianças egípcias antigas competiam para ver quem cuspiria sementes mais longe quando comiam melancia? Parece possível, porque graças ao trabalho de investigação de DNA sabemos agora, com certeza, que os antigos egípcios comeram melancias domesticadas, com polpa vermelha e doce.

As melancias selvagens, encontradas em partes da África, não são como as variedades domesticadas. Elas são pequenas, arredondadas e têm polpa vermelha com um gosto muito amargo, graças a componentes chamados cucurbitacinas.

Todavia, desenhos nas paredes de pelo menos três antigas tumbas egípcias representam o que parecem ser melancias – incluindo uma que se parece surpreendentemente com variedades modernas (retratada abaixo). No século XIX, folhas de melancias foram encontradas sobre uma múmia em uma tumba datando de cerca de 3500 anos.

Suposta melancia, tumba de Chnumhotep, Saqqara, c. 2450 a.C. Cortesia: Renner, Perez-Escobar, Silber, Nesbitt, Preick, Hofreiter, Chomicki.

Quando a botânica Susanne Renner, da Universidade de Munique, Alemanha, soube dessas folhas, ela percebeu que o DNA poderia revelar como eram os melões antigos. Ela descobriu ainda que algumas das folhas haviam sido mandadas ao famoso botânico Joseph Hooker, então chefe do Kew Gardens em Londres. “Era o meu amor da antiga literatura”, disse ela.

Mark Nesbitt do Kew deu ao time de Renner uma pequena amostra de uma folha. Ela teve problemas para abrir o mostruário que continha as folhas, ela disse, à medida que ele não tinha sido aberto desde que as folhas foram ali colocadas pela primeira vez, em 1876.

O antigo DNA foi então sequenciado pelo colega de Renner, Guillaume Chomicki, atualmente na Universidade de Oxford. O time foi capaz de obter apenas uma sequência parcial do genoma, mas que incluía dois genes crucias que revelaram como esses melões eram. “Fomos tão sortudos”, disse Renner.

Um desses genes controla a produção de cucurbitacinas amargas. No melão de 3500 anos de idade havia uma mutação que desabilitou esse gene, o que significa que ele tinha uma polpa doce, assim como as variedades modernas.

O outro gene codifica uma enzima que converte o pigmento vermelho, licopeno – o mesmo pigmento que faz os tomates vermelhos – em outra substância. Esse gene também foi desabilitado por uma mutação, o que significa que o licopeno se acumulava e que o fruto deve ter possuído polpa vermelha.

O que o time não pode dizer a partir da sequência parcial é o quão grande os melões eram e se tinham um formato alongado ou circular. Uma das antigas imagens egípcias mostra o que parece ser um melão alongado, então, parece que os fazendeiros criaram melancias com a maioria, se não com todas as características mais comuns, há pelo menos 3500 anos atrás.

O DNA também revela que o antigo melão estava intimamente ligado a uma melancia com polpa vermelha, que ainda cresce em Darfur, região do Sudão. Isso sugere que melancias foram primeiro cultivadas por fazendeiros nessa região e o uso da planta se espalhou rumo ao norte, ao longo do Nilo, com melhorias posteriores, como a polpa vermelha, que ocorre ao longo do caminho.    

Traduzido de:

PAGE, M.L. DNA from mummy’s tomb reveals ancient Egyptian origins of watermelon. New Scientist, 21 Mai. 2019. Disponível em: https://www.newscientist.com/article/2204095-dna-from-mummys-tomb-reveals-ancient-egyptian-origins-of-watermelon/. Acesso em: 22/05/19.

Para mais informações:

RENNER, S.S.; PÉREZ-ESCOBAR, O.A.; SILBER, M.V. et al. A 3500-year-old leaf from a Pharaonic tomb reveals that New Kingdom Egyptians were cultivating domesticated watermelon. bioRxiv, 20 Mai. 2019. Disponível em: https://www.biorxiv.org/content/10.1101/642785v1. Acesso em: 22/05/19.

Indicações bibliográficas:

MANICHE, L. An Ancient Egyptian Herbal. Cairo: The American University in Cairo Press, 2011.

TALLET, P. A culinária no Antigo Egito. Barcelona: Folio, 2006.

Leitura recomendada:



icon

Luiz Fernando P. Sampaio

Natural de Jacareí - SP, é bacharel e licenciado em História pela Unesp "Júlio de Mesquita Filho", FCHS, Franca - SP. Especializando em História Antiga e Medieval pelas Faculdades ITECNE, Curitiba, PR. Atualmente é professor da rede Estadual de Ensino de São Paulo e na rede privada, ministrando a disciplina de História. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3998141217790326.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo