Antigo Egito

O vidro mais refinado da antiga Roma era na verdade egípcio

Os pesquisadores têm debatido há anos o local exato onde o valioso e translúcido vidro de Roma era feito. Agora, um novo estudo utilizou análise química para combinar os bens cristalinos do império com as areias do Egito, de onde teriam vindo, reportou Katherine Kornei para o The New York Times.

Em 301 d.C., o Imperador Diocleciano emitiu um Édito sobre preços máximos [Édito Máximo], que se referiu a um preço em particular, o do vidro incolor conhecido como “Alexandrino”. Muitos arqueólogos interpretaram esse nome como um indício da origem egípcia do vidro.  

Segundo Ross Pomeroy do RealClearScience, artesãos fizeram o vidro alexandrino – o material escolhido para cálices de luxo – adicionando óxido de antimônio durante o processo de fabricação do vidro. Isso oxidou o ferro presente na areia necessária para produzir o vidro, limpando sua tonalidade verde-azulada ao transformar o ferro em um férrico mais claro.

Para aqueles que queriam ver a cor do seu vinho, mas não podiam pagar por recipientes alexandrinos, o vidro de manganês transparente (então conhecido como vidro judeu) custava cerca de um terço menos. Embora os arqueólogos tenham identificado numerosas fábricas no Levante, conhecidas por terem produzido esse vidro de qualidade inferior, nenhuma evidência definitiva havia ligado o vidro alexandrino ao Egito.

Determinados a resolver o mistério, Gry Hoffmann Barfod, uma geocientista da Aarhus University da Dinamarca, e seus colegas analisaram 37 fragmentos de vidro achados num sítio arqueológico ao norte do Jordão. Os cacos incluíam o enigmático vidro alexandrino, vidro de manganês processado e vidro feito mais recentemente no Egito e no Levante.

Fragmento de vidro romano estudado, claro com detalhes roxos, achado ao norte do Jordão. Foto: Danish-German Jerash Northwest Quarter Project.

Estudos anteriores comparando vidro de manganês produzido no Levante e vidro alexandrino de origem inconclusiva falharam em diferenciar as amostras, porque elas continham proporções de isótopos de estrôncio e neodímio, escreveram os pesquisadores no periódico Scientific Reports. Para evitar o problema, Barfod e seus colegas decidiram investigar as proporções de isótopos do elemento háfnio.

Segundo o jornal, a análise determinou que as proporções de isótopos de háfnio podem ser usadas para diferenciar o vidro alexandrino do vidro levantino descolorizado com manganês. Os pesquisadores também registraram que o vidro alexandrino apresenta proporções de isótopos de háfnio comparáveis ao do vidro que se sabe ter vindo do Egito, aparentemente resolvendo o antigo mistério.

“Esses resultados excitantes mostram claramente o potencial dos isótopos de háfnio em elucidar as origens de materiais antigos”, afirmou o estudioso e coautor Ian Freestone, arqueólogo na University College de Londres. “Eu prevejo que eles se tornarão uma parte importante do kit de ferramentas científicas usado em nossas investigações sobre a economia antiga”.

Como observou o Times, os pesquisadores testarão a seguir a composição química da areia em si, para ver se as proporções encontradas nas amostras de vidro correspondem com os grãos achados nas praias do Egito e do Levante.

Traduzido de:

FOX, A. Ancient Rome’s Finest Glass Was Actually Made in Egypt. Smithsonian Magazine. 5 Ago. 2020. Disponível em: https://www.smithsonianmag.com/smart-news/romes-finest-glass-was-made-egypt-180975482. Acesso em: 07/09/20.

Para saber mais:

BARFOD, G.H.; FREESTONE, I.C.; LESHER, C.E. et al. ‘Alexandrian’ glass confirmed by hafnium isotopes. Scientific reports. 9 Jul. 2020. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41598-020-68089-w. Acesso em: 09/09/20.

POMEROY, R. Where Did Rome’s Famous ‘Alexandrian’ Glass Come From? RealClear Science. 13 Jul. 2020. Disponível em: https://www.realclearscience.com/quick_and_clear_science/2020/07/13/where_did_romes_famous_alexandrian_glass_come_from.html. Acesso em: 09/09/20.

Indicações bibliográficas:

NICHOLSON, P. Egyptian faience and glass. Londres: Shire Egyptology, 1993.

Leitura recomendada:



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Luiz Fernando P. Sampaio

Natural de Jacareí - SP, é bacharel e licenciado em História pela Unesp "Júlio de Mesquita Filho", FCHS, Franca - SP. Especializando em História Antiga e Medieval pelas Faculdades ITECNE, Curitiba, PR. Atualmente é professor da rede Estadual de Ensino de São Paulo e na rede privada, ministrando a disciplina de História. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3998141217790326.

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